Fui jantar com o Manuel e a comida veio fria. Nada pior que um prato de arroz frio, carne fria, chouriço vindalo frio. Não fizemos como o poeta: pagar e ir embora! Não. Ficamos e chamámos emissário da cozinha. Ele com olhar frio em varanda de ventoinhas quente olhou para nós desconfiado. Suavemente encolheu um dedo, aproximou-se, encostou-o ao arroz. Na dúvida, enterrou toda a barriga do dedo no branco: era verdade. Ficou em suspenso até a dona do restaurante aparecer e resolver o problema. Tudo para dentro. Tudo posto num só prato. Aquecido. É por isso que isto não é um poema: é que no tempo de Fernando Pessoa não havia micro-ondas.
(para a Susana)