Tempo

Fui a casa do guardião dos segredos de Goa. Fui a casa do homem que sabe sempre tudo, guarda tudo, conhece tudo. Fui a casa da referência de uma geração, de uma parte simbólica da sociedade Goesa. Conhece quem esteve; quando esteve; porque esteve e; sobretudo, porque se foi embora. Para este homem não há segredos.
À mesa um grupo de pessoas perguntavam coisas, desfolhavam livros. «Tenho mais de seis mil livros.» Sobre a mesa o livro branco de Franco Nogueira revelava os telegramas de Dezembro de 1961. Era um homem bonito. Muita idade. Doce. O empregado serviu-me chá e a lata de leite seco para eu adicionar. Sobre a grande mesa passeavam livros, fotografias, cartões de amigos, recortes de jornais. Refeições.
O guardião já quase não guarda, não cheguei a tempo, mas nem que fosse apenas por respeito: regressar.