Senhor Bento

Circulava como circulam os que não tem caminho. Numa parede uma cor conhecida, uma imagem de excelência, um símbolo distinto de Portugal. Sorrio. Dou um passo atrás e volto a sorrir pelo prazer de estar certo. Dentro da pequena loja alcanço uma confirmação numa página de jornal na vitrine. Na fotografia, todos distintamente vestidos às ricas, a rigor, de corpo hirto, a sorrir para a posterioridade. Deduzo que se trata de um jornal antigo. Engano-me. O proprietário do estabelecimento dirige-se a mim e estende-me a mão: «então de onde é o meu amigo?» Lisboa, respondo. «Tenho muito prazer em que entre um pouco. Como se chama?» Duarte, Duarte Mexia, deixo sair, e o meu amigo? «Bento. Senhor Bento.» Ah, como o outro?, digo não resistindo à tentação.
«Sim, como o outro. Então esta noite lá ganhámos aos penaltis? Uma vitória esplendorosa.» Sim, vi o jogo na televisão, não jogamos mal! «Sabe, aqui em Pangim temos o núcleo do Sporting Clube de Portugal. Temos muita honra e tradição. Já desapareceu o do Benfica. Já desapareceu o da Académica. Mas o do Sporting permanece a jogar. Gostava que o meu amigo me viesse visitar mais vezes.» Sim, Senhor, Senhor Bento, virei.