Palolém

Pangim desta vez parece-me mais escura. Casas a precisarem de cal e banhos de cor. Agora, Portugal não me surge como uma pátria distante, no entanto, tende a desaparecer um pouco todos os anos depois das chuvas da monção. Na curta conversa com o Paulo, o cenário adensou-se: os preços das casas começam a imitar Mumbai (e porque não New York), as velhas famílias tendem a morrer sem passar testemunho do que já não existe. Agora a Índia é a quinta economia do mundo, o dinheiro está do lado de cá e já ninguém se assusta com caravelas ou aviões da Taip. Restamos aqui para manter o espírito… Uma certa tradição. Uma teimosia.
Dizem-me que a costa foi tomada de assalto: «há praias que já parecem o Algarve. O mau Algarve.» Casas apalhaçadas em alumínio, cimento e chapa florescem por toda a parte. Arrependo-me por me ter comovido ao ver Matt Damon a correr na praia de Palolém em busca da identidade desconhecida. Como vou explicar à Rita que a praia que me fez vir escrever para este lado do mundo já não existe? Como explicar que a cabana junto à praia não se vai voltar a repetir.