Mrs. Linda D’Souza

Ela comanda toda a casa e os empregados de lacinho e colete andam a toque de caixa, aliás, como em toda Índia. Numa mesa do restaurante comanda a sala, a outra sala com ar condicionado, a cozinha e as duas mesas da rua via janela. Na primeira noite, veio falar-nos à mesa para cumprimentar o Paulo. Individualidade de respeito para as gentes de Pangim. No caminho falou do admirável ex-cônsul de Portugal. «Rapaz novo, bonito, muito educado, bem vestido, simpático, que encantava» as gentes goesas. Por alturas do mundial de futebol fez uma espécie de segunda conquista com bandeiras vermelhas e verdes e até cascoles (e como são necessários nas gélidas índias!). A morte levou-o mas não o esquecimento. Esta manhã, estava eu sozinho, prestes a comer algo parecido com um pequeno-almoço, lá apareceu com seus criados. Memórias do jovem cônsul falecido em desgraça e a imensa saudade que sente de tão brilhante pessoa. «Very polished.» Pelo jantar, novo encontro, nova troca de palavras de circunstância e, a memória é como o picante, nunca falha: o cônsul à cabeça da ementa e os dispendiosos peixes grelhados que eram os seus preferidos... Só por inveja vou comer caril e mostrar à Mrs. Linda D’Souza com quantos chapatis se faz um verdadeiro português!