Está tudo explicado

Falei com Alice à noite pelo Skipe. Viva a banda larga. Ela escreveu um email ao amigo embaixador a contar que estava em Goa um jovem escritor - ex-jovem qualquer coisa - chamado Duarte Mexia. E que por sinal era um tipo porreiro. Eu. O embaixador recebeu o dito cujo no portátil quando foi ver o Weather Channel ou outra coisa que lhe tenha valido a pena. Quando me apresentei, disse: «ah, então você é que é o Duarte Mexia» e deu-me um cartão com o telemóvel, email e tudo o resto. «Dê-me notícias suas», disse.
Como teria ocorrido tudo isto em 1961, o ano da invasão?
Eu escreveria uma carta a falar da visita do embaixador para daí a um mês… Ou mandava um extenso aerograma, via aviões da Taip - Transportes Aéreos da Índia Portuguesa. Ambas hipóteses, todavia, aparecem pouco prováveis porque a alta entidade apareceu em conversa por mero acaso. Depois a Alice enviaria um radiotelegrama ao amigo para Deli. O funcionário da embaixada na Capital indiana, preocupado e funcionando como todos os funcionários deveriam funcionar, reenviaria o dito cujo para o hotel com um acrescento em jeito de comentário: «Achei oportuno enviar. Espero que não seja grave. Atentamente seu… e depois o nome do funcionário supra mencionado.
À noite, regressado ao quarto e ao ler a missiva perguntar-se-ia a si mesmo… «qual dos gajos seria o Mexia?» Eu. O moço meio engraçado, cabelo mais curto do que natural devido a não querer mudar de barbeiro e de calcinha bonita apesar do calor húmido.
Após o fracasso nas apresentações eu tentaria mandar um telegrama a dizer: «Não consegui falar com o homem stop. Por aqui chovem canivetes stop saudades stop D stop (só D que era para poupar na conta porque isto pagava-se à letra!).»
Foi por essas e por outras que no 17 de Dezembro de 1961 as tropas portuguesas em vez das pedidas munições para metralhadora, antiaéreas e tanques (poucochinhos) receberam: pás-de-porco, carne de vaca e chouriços!